"Não dimensionei ainda o quanto gostavam de mim" : Valdívia aposenta e deixa legado inesquecível ao Palmeiras

 "Cansei, foi o suficiente", Valdivia sobre sua carreira no futebol

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Valdivia tinha quase certeza que era mais odiado que amado. O chileno, de 38 anos, anunciou o fim da carreira nesta sexta-feira (2). Uma carreira de poucos títulos, é verdade. Mas o mais curioso é perceber que Valdivia deixa sim um enorme legado para o Palmeiras.

O agora ex-meia recebeu uma enxurrada de mensagens de torcedores palmeirenses nas redes sociais desde que veio ao ar uma entrevista sua concedida à rádio chilena ADN, na qual diz que vai pendurar as chuteiras.

Valdivia jogou em clubes como Colo-Colo-CHI, vestiu a camisa da Seleção Chilena. Mas nenhuma dessas camisas foi tão marcante como a do Palmeiras. Não é arrogância afirmar isso, foi o próprio meia quem "escreveu" isso em suas passagens pelo clube.

O ex-jogador recebeu muitos apelidos ao longo dos tempos de Palmeiras. Seus altos e baixos foram responsáveis por isso.

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Valdivia não tinha papas na língua e causou no Brasil com a irreverência (Foto: Reprodução/Twitter)

Contudo, um fato é interessante. Antes da 'Era Abel Ferreira', Valdivia esteve no melhor e nos piores momentos do Palmeiras na última década. Os piores, porque não foram poucos, suportados pelos filhos do fim da década de 90, que não testemunharam as glórias da 'Era Parmalat'.

Valdivia teve seu auge no Palmeiras entre 2006-2008, logo no início. Se apresentou como um meio-campista acima do comum, famoso por esconder e colocar a bola onde bem queria, não à toa, o apelido de "Mago"

Foi com essa magia que foi protagonista do Campeonato Paulista 2008, fazendo gols decisivos e dando passes milimétricos. Era o primeiro título de muitos adultos que hoje tem mais de 24 anos. Difícil de esquecer.


Ao longo dos anos vestindo a camisa do Verdão, quase uma década, juntando as duas passagens, a primeira em 2006 e a segunda em 2010, Valdivia foi como o seu xará "mestre dos magos", do desenho infantil A Caverna do Dragão.

Atormentando por lesões ficava ausente nos jogos, ou mesmo, lesionava durante a partida e seguia para o banco. Uma cena que se repetiu muitas vezes, e que resultou em um misto de sentimentos entre torcedores alviverdes. Justas ou injustas, havia lamentações de um lado, e revolta do outro.

Três anos mais tarde, o Palmeiras viria a conquistar um grande título, após o primeiro descenso (2002): a Copa do Brasil 2012. Uma taça conquistada na raça, e também, graças a estrela do técnico Felipão.

A campanha, no entanto, fez o time descuidar do Brasileirão, resultando no segundo rebaixamento. Valdivia não era mais o mesmo de 2008, mas era visto como aquele que podia fazer a diferença. Não para alguns, mas para muitos.

Valdivia conquistou três títulos em sua passagem pelo Palmeiras (Foto: Reprodução/Getty Images)

"Ruim com ele, pior sem ele", a sina do palmeirense


Tudo parecia difícil. O Palmeiras passou um longo tempo longe de sua casa. O estádio Palestra Itália foi isolado durante alguns anos para reconstrução. Era um projeto grandioso, mas que, por um lado, deixava time e torcida longe do seu reduto.

Depois de voltar à elite, em 2014, o Palmeiras teve de volta a sua casa, remodelada e modernizada, a arena multiuso Allianz Parque. Valdivia esteve ali durante essa transição. 

Em 2014, o clube completou 100 anos. No ano do Centenário, o time inaugurava a sua nova casa, mas não tinha um grande patrocinador há tempos.

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O Palmeiras usou a logo do programa de sócio torcedor para disfarçar a falta do patrocínio (Foto: Divulgação/ Palmeiras)

Durante a campanha da Série B, em 2013, o Palmeiras não conseguiu fechar nenhum patrocinador máster. Situação que permaneceu no ano do Centenário. Era menos receita e mais dívidas.

Nessa mesma temporada, o Palmeiras brigou novamente contra o rebaixamento. Chegou até a última rodada do Brasileirão precisando vencer o Athletico-PR para permanecer na elite. Não venceu, mas escapou por combinação de resultados.

Os palmeirenses, presenteados com a nova arena, se viram em agonia até a última rodada. Valdivia era um dos jogadores em campo nessa partida dramática. Durante a campanha do time foi visto como esperança.

"Valdivia joga?"

A resposta dessa pergunta era a mais esperada por muitos palmeirenses durante alguns anos. Carentes? Inocentes? Com certeza aflitos. Com ele em campo o time era um, sem ele era outro. Quando um jogador chega a esse nível, ele não é o único responsável por isso.

Valdivia com certeza não queria essa responsabilidade solitária, mas foi empurrado pelas circunstâncias. Por reconhecerem a sua qualidade, muitos palmeirenses torciam por migalhas, visto que muitas vezes o chileno sequer jogou em plenas condições físicas.

"Com ele temos chances", diziam os palmeirenses

Sem dúvida, a maior lembrança que ele deixa para uma jovem geração de palmeirenses é ter sido exemplo de qualidade em tempos tão sombrios. Talvez por isso se surpreenda pelo carinho. "Não dimensionei ainda o quanto gostavam de mim", disse Valdívia respondendo pelo twitter.

O legado que Valdivia deixa é para a Sociedade Esportiva Palmeiras, que com sua tamanha grandeza, tem aprendido a lição de nunca se deixar refém de um jogador. Lição que benefícia ambos os lados.